20 de agosto de 2009



O que se vai!

Como voa o passarinho.
Grande é a beleza de seu biquinho.
Seus olhos de fogo
Alumiam. Encendeiam.
Dando vida ao seu cantar.

Passarinho. Tiá-porang!
Adonde vai?
Com seu traquejar,
Pelo baixão afora?
Não queres no muntura
Da casa minha ficar?

Fica meu passarinho.
Quero te ver cantar.
Mas foi envão, o pedido do Kunumï.
Que viu o passáro se sacudir e Voar.
Voar. Voar. Voar!

17 de agosto de 2009

Fiar

Vai abá caminhando pela mata,
ouve uma saudação,
juriti voz poderosa, rouca, cavernosa,
lenta é sua ode, mas contagia a povoação.

O baixão, a serra, o morro, o sertão,
conhece a voz da juriti, que canta
e todos a conhece, basta ser dali.
Dali da terra, bem pertinho de te.

E o homem que caminha é dali.
Seu olho penetra a mata,
Como flecha certeira que corta
A verticalidade da física em movimento retilíneo.
Acertando a presa, rápida.
Que cai. Num instante repentino.

O homem se aproxega da pindoubeira
Que ergue majestosa sua copeira,
Dando abrigo ao sanhaço,
Bacurau e a lavadeira.

Ergue seu membro superior,
E puxa como a garra felina a caça,
Tira o homem uma palha,
Um galho, outro galho e outro.
Vários galhos e leva parra casa.

No oitão da casa,
Os filhos o arrodeiam,
Vê-o tirar fibra por fibra,
E da cabeça do pai não consegue imaginar.
O abá quer monhagá.

O que o chefe quer,
Com tanta palha?
O que fará?
Olhando sempre,
Sem um olho piscar.
Kunumï ver o mestre fazer,
Para depois imitar.

Uma mão vai por cima,
A oura levemente cruza a diagonal
Da imagem espalmada na terra
E chega a um ponto final.

E cruza daqui
E cruza de lá.
Sem matutar
Constrói um belo,
E sempre único,
Grande e de utilidade,
Um Caçuá.

Terminada a obra,
Se alevanta e vai buscar.
Mandioca na roça,
Para esposa cozinhar.

As crianças ficam com a sobra,
Outros cestinhos vão criar.
Que imitaram o pai,
Esse que viva para enchegar.

E assim, se aprende,
Nas terras de Mirandelá.
Criança faz trabalho de criança,
Pra quando adulto saber se virar.
Eita

Eita, eita!
O toré vai começar,
Eitá, eitá,
Só vai parar amanhã
Quando o sol se artiá.



Eitá, eitá.
Tem Kiriri
Pra daná.
Mirandela é toda festa.
O povo a festejar.
Posseiro saiu da terra,
Agora, podemos voltar.

Eitá, eitá!
Salve a juremá.
Eitá, eitá.
O tropelo
Nunca mais vai acabar.


ANAMA


O sol se alevanta por trás das serras,
Kiriri olha a terra e sente uma emoção,
Seja criança que brinca inocente na terra,
Ou os sábios guardadores de segredos, o ancião.

A terra bendita e sagrada,
Irão dela cuidar,
como a mãe cuida do filho,
que para ela, é sempre especiá.

Povo é família grande,
Não há no meio dele distinção,
Todo mundo é importante,
Não importa a função.
Que importa é que é, gente da terra,
Filho do mesmo Torrão.

Anama karaiba,,
Kiriri anama!
Um presságio.

Um canto ecoou,
kunumï se alevantou,
arrudiou a oka,
e no alto da catingueira,
a akoã avistou.

Cantou leve,
disparado,
agouro anunciou
Kunumï assustado,
do significado do canto,
aprendido do seu avô.

Tomou o prumo de casa,
À mãe foi falar,
Que akoã estava cantando,
era preciso se defumar.

Pega o pau.
Uma brasa brilha,
no interior do cachimbo,
saúda os quatro ventos.
O mal foi despedido.

Kunumï volta a brincar,
no embalo funebre da akoã,
que não para de cantar,
a espera que o hoje passe e venha o amanhã.