24 de novembro de 2009

O RISO


Havia um riso.
Um riso,
Um riso fino.
Riso largo, belo,
Riso lindo.

Havia um riso,
Havia um riso de chuva,
Riso de sol,
Havia um riso. Só um riso.

Havia...
E agora aonde estará sendo o riso?

30 de setembro de 2009

Chuuuuuuuuuuu!!! Chuááááá´!

Escorre o líquido,
Pelas ladeiras, calçadas,
Linda, bela e fina.

Era ela tão leve e tão fria.
Tão morna e cheia de fantasia.

20 de agosto de 2009



O que se vai!

Como voa o passarinho.
Grande é a beleza de seu biquinho.
Seus olhos de fogo
Alumiam. Encendeiam.
Dando vida ao seu cantar.

Passarinho. Tiá-porang!
Adonde vai?
Com seu traquejar,
Pelo baixão afora?
Não queres no muntura
Da casa minha ficar?

Fica meu passarinho.
Quero te ver cantar.
Mas foi envão, o pedido do Kunumï.
Que viu o passáro se sacudir e Voar.
Voar. Voar. Voar!

17 de agosto de 2009

Fiar

Vai abá caminhando pela mata,
ouve uma saudação,
juriti voz poderosa, rouca, cavernosa,
lenta é sua ode, mas contagia a povoação.

O baixão, a serra, o morro, o sertão,
conhece a voz da juriti, que canta
e todos a conhece, basta ser dali.
Dali da terra, bem pertinho de te.

E o homem que caminha é dali.
Seu olho penetra a mata,
Como flecha certeira que corta
A verticalidade da física em movimento retilíneo.
Acertando a presa, rápida.
Que cai. Num instante repentino.

O homem se aproxega da pindoubeira
Que ergue majestosa sua copeira,
Dando abrigo ao sanhaço,
Bacurau e a lavadeira.

Ergue seu membro superior,
E puxa como a garra felina a caça,
Tira o homem uma palha,
Um galho, outro galho e outro.
Vários galhos e leva parra casa.

No oitão da casa,
Os filhos o arrodeiam,
Vê-o tirar fibra por fibra,
E da cabeça do pai não consegue imaginar.
O abá quer monhagá.

O que o chefe quer,
Com tanta palha?
O que fará?
Olhando sempre,
Sem um olho piscar.
Kunumï ver o mestre fazer,
Para depois imitar.

Uma mão vai por cima,
A oura levemente cruza a diagonal
Da imagem espalmada na terra
E chega a um ponto final.

E cruza daqui
E cruza de lá.
Sem matutar
Constrói um belo,
E sempre único,
Grande e de utilidade,
Um Caçuá.

Terminada a obra,
Se alevanta e vai buscar.
Mandioca na roça,
Para esposa cozinhar.

As crianças ficam com a sobra,
Outros cestinhos vão criar.
Que imitaram o pai,
Esse que viva para enchegar.

E assim, se aprende,
Nas terras de Mirandelá.
Criança faz trabalho de criança,
Pra quando adulto saber se virar.
Eita

Eita, eita!
O toré vai começar,
Eitá, eitá,
Só vai parar amanhã
Quando o sol se artiá.



Eitá, eitá.
Tem Kiriri
Pra daná.
Mirandela é toda festa.
O povo a festejar.
Posseiro saiu da terra,
Agora, podemos voltar.

Eitá, eitá!
Salve a juremá.
Eitá, eitá.
O tropelo
Nunca mais vai acabar.


ANAMA


O sol se alevanta por trás das serras,
Kiriri olha a terra e sente uma emoção,
Seja criança que brinca inocente na terra,
Ou os sábios guardadores de segredos, o ancião.

A terra bendita e sagrada,
Irão dela cuidar,
como a mãe cuida do filho,
que para ela, é sempre especiá.

Povo é família grande,
Não há no meio dele distinção,
Todo mundo é importante,
Não importa a função.
Que importa é que é, gente da terra,
Filho do mesmo Torrão.

Anama karaiba,,
Kiriri anama!
Um presságio.

Um canto ecoou,
kunumï se alevantou,
arrudiou a oka,
e no alto da catingueira,
a akoã avistou.

Cantou leve,
disparado,
agouro anunciou
Kunumï assustado,
do significado do canto,
aprendido do seu avô.

Tomou o prumo de casa,
À mãe foi falar,
Que akoã estava cantando,
era preciso se defumar.

Pega o pau.
Uma brasa brilha,
no interior do cachimbo,
saúda os quatro ventos.
O mal foi despedido.

Kunumï volta a brincar,
no embalo funebre da akoã,
que não para de cantar,
a espera que o hoje passe e venha o amanhã.

11 de agosto de 2009

A senhora
Outro dia sair de casa avexado, dizia meu amigo, ele é desses caras que não gosta muito de ligar para o que as pessoas vão pensar dele, seja por sua opção política ou mesmo filosófica, o que importa para ele é que não se mantém neutro na sociedade. Para ele o que importa é viver a liberdade! Sim, voltando para o caso, eu ia contando o lance de você sair de casa e tal, quer dizer meu amigo, ia dizendo, que saiu de casa, na pressa de pegar o ónibus do outro lado da rua, que é a rua que fica depois do quarteirão do seu condomínio, que para isso tem que atravessar quatro faixas, dessas pintadinhas de branco no chão, então, lá vai meu amigo, ao entrar no elevador nem deu boa tarde direito, passou pelo pipoqueiro quase leva o instrumento de trabalho do seu... ããh. Ih deixa para lá esqueci o nome do pipoqueiro, bem, ai chegar na calçada. Para. Olha. Ónibus passa. Outro desse. Outro sobe. Chega uma senhora. Com outra senhora. As duas pareciam duas fofoqueiras, mas não eram, só louvavam a vida alheia. Que tem de mais? (...) Nesse interim uma diz: - Mulher esta avenida é perigosa, visse? A outra olha para ela e com cara destemida. - É perigosa, proque o povo num sabi andar na rua, muler!
- Olhe eu é atrasada, visse! Comenta a primeira com segunda e arrasta-a para o centro da pista. Nisso o ónibus vem em grande velocidade, como sempre anda no centro do Recife, justamente para vencer o povo mal educado - dizia meu amigo - que se aglomera na calçada e quando tem uma brechinha, tomam a avenida, obrigando o condutor parar sua caixa metálica. E assim, as senhoras no meio das duas pistas. Uma que sobe e outra que desce. E meu amigo na calçada esperando o sinal feixar subtamente. O ónibus desceu, para ele - meu amigo - seria só mais um ónibus, mas não, aquele foi O ónibus. Pois, pegou as duas senhoras peso pesado, assim, como a tia Zefinha, do meu amigo que faz um docinhos maravilhosos, e lançou da parada A à B. Não teve jeito, foi traumatismo. Final das contas: motorista preso, passageiros tiveram que pegar outro ónibus e as duas famílias, ficaram sem receber o dinheirinho mensal do INSS, observação do meu amigo. E ai ficou eu aqui pensando, como sempre faço, é raro, mas faço uma vez ou outra. Como pode? As pessoas sabem que calçadas são locais para passagem de pedestres, mas querem disputar espaço com as caixas metálicas? Eu sei que as essa avenida é horrível para os dois passantes, pedestre x automóveis. É um horror, mas se fazermos como as senhoras não pararndo no sinal de acordo como manda o palhaçinho de transito. Vamos levar um apitaço e vamos sair perdendo, vida, amigos e o prazer da fofocar em baixo do semáforo. Esse meu amigo vem com cada história, viu?
Salve a Liberdade!

10 de agosto de 2009

Olhando o sol se por

Ficar olhando o sol se por
Lá onde o marco é 0.
E onde a alma é livre.
Palhaço
Minino-pinoquio
Circo sem palhaço
Mulher só.
Vivo-morto.
Menina raivosa que dar língua

Menino que mostra o dedo
Quando os pais não olham.
CAPIBARIBE

Capibaribe ás tuas margens
Cabe na alma do mundo
Dos esquecidos, dos sem casa
Dos sem sono, dos famintos
Casa-mangue-igreja-mundo

Capibaribe terra dos sem - tudo
Terra dos que nada falta
Capi-capim, capibaribêêê
Nas tuas águas sempre me lavarei.

As águas deste rio
É da cor de minha alma
A cor deste rio é a cor da minha fome
A cor do rio é da minha epiderme

A cor do rio é cor da alegria
De quem dele sobrevive
É cor da palafita
Da minha alma, da sua, da nossa.

Capibaribêêê
Onde esta você
Capibaribe o que é você
Capibaribêêê.
BIOmBO
Marcas, marcas-pessoas
Grafadas, pinchadas.
Na parede da memória
Com azul anil.

Marcas do grito que
está calado na garganta
Do menino que rir.
Na porta do teu biombo.

O biombo do menino
Sem cama, sem sala, sem mesa.
Mas tem goteira, inundação.
Chão molhado, pingueira.

Marcas na memória do povo
Do povo marcado pela não-memória.
Da vida que não é vida,
Mas que tenta ser vida.

Vida tentada ser na pingueira
No biombo sem ser nada mais
A não ser querida
Por aqueles que querem viva: A vida.

Quem no biombo não quer
Viva a vida sua e dos teus.
Marcas que a vida-viva
Vive marcando a vida.
Olhe...

Olhando pela janela do meu mundo
Vi uma louca andando sobre cacos de vidros feitos
De casca de ovos de um pré-histórico animal
Seus dentes afiados desejavam-me e rir.

A louca ria da minha cara amarrada
De meus trajes imundos, de minha imundice humana,
Sair da janela e vir refletida a imagem louca da minha cara
Num espelho velho e rachado. Sujo e antigo.
Olhando pela janela do meu mundo
Vi uma louca andando sobre cacos de vidros feitos
De casca de ovos de um pré-histórico animal
Seus dentes afiados desejavam-me e rir.

A louca ria da minha cara amarrada
De meus trajes imundos, de minha imundice humana,
Sair da janela e vir refletida a imagem louca da minha cara
Num espelho velho e rachado. Sujo e antigo.
Bola de Cristal

Um dia iluminado por minha bola de cristal
Que você achou na caverna do meu pensamento.
Um dia como o outro qualquer, sem cogumelos
Um dia como outro sem cogumelo.

Um jardim na frente de sua casa
Tem sempre um gnomo sentado embaixo de um cogumelo.
Com fadas que voam de uma lado para o outro parecem
Absortas em suas loucuras de duendolas.

Caminhos frios esses.
Poucas arvores no caminho.
Sem magia, sem bola de cristal
Sem meias palavras.

Fadas existem depois de chá de cogumelos.
Não existem. Não.

9 de agosto de 2009

À frente na carruagem azul vai,
a dama em sua passagem pela terra...
Olá